“Siga as setas amarelas”: essa é a diretriz do Caminho do Sol. Seja ela em pintadas em pedras, cercas ou postes próprios ou de energia. Em todo o caminho elas estão por lá… Tem que ficar sempre atento.
E aqui compartilho a experiência de percorrer o Caminho do Sol em dois dias, com muito vento, céu de brigadeiro, temperatura agradabilíssima e muito esforço!
O Caminho
O Caminho do Sol, nasceu com o objetivo maior de oferecer aos amantes de caminhadas, um ambiente agradável, passando em sua quase totalidade , somente por áreas rurais, buscando a introspecção e o despojamento material.
Aproveitando inicialmente as características topográficas, e o excelente nível de qualidade de vida da cidade de Águas de São Pedro, que coincidentemente comemora a data de sua fundação (dia 25 de Julho), com o dia do Apóstolo Santiago, lançamos dia 01 de dezembro de 2001, a pedra fundamental da Casa de Santiago, com a presença de Jesus Jato e sua mulher MariCarmen, doadores da imagem de Santiago.
A Casa de Santiago (local onde termina o Caminho do Sol) abriga hoje a imagem do Apóstolo Tiago. Entregue aos caminhantes em 25 de Julho de 2002 ,quando 94 peregrinos lá chegaram trazendo a imagem, que foi entronizada no “nicho” pelo Bispo Don Moacyr Vitti que no ano seguinte assinou o Decreto promulgando Santiago, Padroeiro da Cidade de Águas de São Pedro que até aquela data não tinha ainda seu Patrono Oficial.
Fonte: http://www.caminhodosol.org
Motivação
Tomei conhecimento do caminho através de um convite do GoBiking!. Procurei na internet e achei o site: http://www.caminhodosol.org, e referências de outras pessoas que fizeram. Fiquei interessado em um dia fazer o percurso, mas sempre foi complicado adequar o tempo e custos para a viagem.
No site do caminho fala sobre alguns requisitos, e um deles é participar da palestra orientativa, e conhecer todos os detalhes e dificuldades. Agendei a participação para o dia 13/03/2010, e lá conheci o Cláudio Margini, um dos consultores do caminho e ministrador da palestra.
Troquei vários e-mails com a Fátima e o José Palma sobre como se planejar, e tinha as coisas bem clara na cabeça.
Outro motivador foi sempre ver as setas pelas trilhas da região do Armazém do Limoeiro e nas provas do GP Ravelli de Salto. E como esse vai e vem de treinos e trilhas eu já tinha percorrido todo o percurso entre Santana de Parnaíba a Salto, de forma picada, e nunca de forma contínua.
Um dia, num dos pedais noturnos conversei com o “Alemão”, uns dos coordenadores do GoBiking! e organizador de cicloviagens freqüentes pelo caminho e surgiu a idéia de fazer o caminho em dois dias. Falou que era possível, era só planejar com calma.
No site há a clara menção de que é “hard” fazer o percurso em três dias, imagine em dois! O desafio foi despertado.
Preparação
Num bate papo de treino com o meu amigo Fred, companheiro de duplas no Endurance Bike e Maratona 100 Km dos Canaviais (em ambos ficamos em 7º lugar), tivemos a idéia de percorrer o caminho e só faltava definir um final de semana.
Ficamos acertados de fazer no dia 31/07 e 01/08/2010!
A Mari, namorada do Fred, ficaria no carro de apoio (santa decisão!), e nós sairíamos bem cedinho de Santana.
Conversamos bastante com o Prof. Helio Souza sobre como seguir nessa viagem, e publicou em seu blog as suas recomendações. Não nos assustamos tanto, porque tínhamos feito juntos, a apenas um mês, a Maratona 100 Km dos Canaviais, e parte das dicas valia para essa nossa trip.
Além das recomendações do Helio, também tivemos o auxílio de sua parceira Milena, nutricionista esportiva de primeiro, que em apenas duas conversas nos passou um conjunto muito bacana de recomendações gerais do que comer, do que não comer e com que frequência. Credito boa parte do nosso desempenho a essas dicas, que também estão no blog do Prof. Helio.
Fui atrás dos logs de GPS para montar a trilha e ver qual o melhor ponto de parada, afinal estamos falando de 245 quilômetros em dois dias. Estudei a trilha e altimetria, e ficou a parada em Capivari, 135km depois de Santana, e com a metade da altimetria. E para o segundo dia os 110km restantes.
Liguei para o Gran Tour Hotel em Capivari, fiz as nossas reservas. O Fred preparou os comes e bebes, e tudo pronto!
Primeiro Dia
Bike, mala e alimentação preparados, então a história seria pedalar!
Se sexta para sábado, acordei algumas vezes, estava ansioso . Não era para menos… Nunca tinha andado tanto de mountain bike num único dia, o máximo até hoje tinha sido 101km, e nesse primeiro dia estava previsto 135km, com 2100 metros de altimetria acumulada.
Acordei às 4:45, já tinha deixado tudo no carro, e zarpei para Aldeia da Serra, onde deixei o carro na casa da Mari. De lá fomos no carro do Fred para Santana de Parnaíba, apenas 10 km de distância.
Em Santana de Parnaíba estava frio (uns 12 graus), descemos as bikes, carregamos as caramanholas e seguimos a Estrada dos Romeiros. O destino final do dia foi Capivari, nos meus planos, 135 km depois.
Eu conhecia todo o percurso até Salto, como falei já tinha pedalado em partes, ou treinando de Speed na estrada dos Romeiros, ou pedalando pela trilha do Limoeiro de MTB.
No começo pegamos um pouco de neblina, e aos poucos o sol foi dando suas caras e nos forçando a tirar os agasalhos. Logo depois de Pirapora de Bom Jesus já estava tirando o quebra-vento. E em Cabreúva os manguitos.
Os primeiros 45km foram de asfalto e com muita subida e descida. Na saída de Cabreúva até o acesso a SP-75 (entrada do Limoeiro) a subida judiou bastante. Mas era começo e tínhamos pedalando somente 40km, e bem empolgados e inteiros.
Finalmente chegamos na entrada da estrada de terra, andamos um pouco e já estávamos no Armazém do Limoeiro, fizemos uma parada. A Mari comprou café, comemos uns pãezinhos e seguimos direto até Salto, onde paramos para reabastecer as caramanholas e descansar um pouco.
Aproveitamos o visual, a temperatura muito agradável e o visual. Mesmo sendo um período mais seco, a natureza fez a sua parte no meio das pastagens.
Foi bem rápido, entre a entrada da estrada de terra e a cidade de Salto, um trecho bem plano e a viagem estava rendendo muito bem.
A Fazenda Vesúvio é o ponto de parada e pouco para os peregrinos depois da Fazenda Cana Verde. Lá tivemos alguns contratempos, o primeiro foi que o caminho foi marcado por caminhos onde carro não podia passar, mas facilmente resolvido perguntando para funcionários da fazenda. E o segundo foi uma porteira trancada, onde o carro de apoio não passava. Perdemos um tempinho indo até a sede da fazenda, pegar chave, e continuar viagem.
Uns 2 km depois tivemos um susto, um marimbondo picou meu companheiro Fred, ele se assustou, descontrolou da bike e caiu. Alguns esfolados moderados e o susto grande de uma queda numa viagem longa. As dores do tombo e ardência o seguraram bastante. Ele nunca pensou em desistir, foi guerreiro, e fomos juntos, eu fazendo o quebra-vento sempre que podia e mantivemos um bom ritmo.
O visual é muito bacana, um misto de fazendas de gado e grandes planos de cana.
No final, antes da Fazenda Milhã, um zig zag em volta de uma grande represa, com muitas mensagens e marcações sobre o caminho. O bom é que tinha muita sombra, muito fresco, bom para descansar pedalando.
Chegamos em Capivari perto das 3 da tarde, passamos numa farmácia para comprar curativos, e fomos para o hotel. Tomei banho e capotei por umas três horas, depois procuramos um lugar para jantar, e pelas 9 já estava dormindo para o outro dia.
Resumo: 132 km, 2080 metros de subida acumulada, 7:20, e 21,5km/h de média em movimento.
Segundo Dia
Acordei uns 10 minutos atrasado, o café da manhã só seria servido as 7, e o administrador do hotel quebrou um galho e serviu o café uma hora mais cedo. Pouco minutos depois das 7 horas já estávamos zarpando.
No planejamento eu tinha estudado três logs de GPS, todos tinham um ou outro erro, mas entre Capivari e Mombuca o pessoal do GoBiking! pegou um atalho, indo direto pela rodovia, e o outro registro tinha muitos “vai e vem” estranhos, e várias marcações de erro. Estávamos empenhados em fazer o percurso total, seguir todas as setas amarelas, e fomos lá, sem a muleta do GPS…
Em alguns pontos erramos, sorte nossa a namorada do Fred buzinar e nos alertar para o erro.
É importante estar sempre atento, o cansaço e calor sempre tiram a atenção, não pode bobear!
O visual continuava muito legal, vastidões de canaviais, ou sobes e desces de pastagens.
O percurso do segundo dia foi muito mais duro do que o primeiro, muitas subidas íngremes e com pedras soltas, força nas pernas! O vento não pegou tão pesado quando no primeiro dia, o sol estava do nosso lado, tempo limpo e fresco.
A chegada foi extremamente gratificante!
Demos uma perdidinha na entrada da cidade, mas rapidamente encontramos as setas e as indicações para a Casa de Santiago.
E entrando num parque, muito arborizado até os altares e imagens, onde os peregrinos pegam o Arasollis, ou o passaporte validado da realização do caminho.
A alegria de chegar na Casa de Santiago é indescritível, depois de dois dias muito bem pedalados, muitas subidas, descidas, a queda do Fred, o vento, tudo valeu a pena!
E agora quero voltar, novamente em dois dias, e também a Ana Paula, minha esposa, aí será de forma mais pausada.
Resumo: 110km, 2000 metros de subida acumulada, 6:10, e 20 km/h de média em movimento.
Percurso
Não existe o percurso oficial no site do Caminho do Sol, só mesmo de quem já fez.
O percurso que fizemos pode ser considerado 99,9% acurado para ser feito de bike e com carro de apoio de acompanhamento. Entretanto é importante a atenção para o sentido das vias e particularidades do caminho.
Vou deixar aqui para download em várias versões:
http://vinicius.mobi/wp-content/rotas/2010.Caminho.do.Sol.gpx
Fotos
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Agradecimentos
Primeiro a minha esposa Ana Paula pela paciência de “deixar” eu fazer o Caminho do Sol, depois de uma semana fora de casa à trabalho.
Ao Fred, meu companheiro de provas em dupla e um grande colega de pedais. Espero que a parceria continue por muitos quilômetros. E o apoio da sua namorada Mari foi fundamental, dirigindo por horas e horas e sempre nos alertando nos nossos errinhos e desatenção.
Ao Prof. Helio Souza pelas dicas, conversas e treinos. Foram fundamentais para controlar o cansaço e manter o ritmo. E também a Milena, com as dicas de nutrição.
E por fim a galera do GoBiking! e Aventura a Dois por registrar o Caminho do Sol, e eu poder usar como referência.
agosto 10, 2010 at 23:21
Vini, quem sabe na próxima não pedalamos juntos!? Parabéns a vocês! Um grande abraço!
agosto 9, 2010 at 22:00
Caraca! Eu ia te cobrar hoje mesmo esse relato! Fantastico! Muito legal o fato de compartilhar os arquivos!
Fiquei imaginando a picada do murimbondo… sou alérgico e se fosse comigo, poderia ter acabado a trip por alí…
Parabens pelo relato, mas obviamente e principalmente pela atitude e disposicao!
Abracao!
agosto 9, 2010 at 22:26
Grande Ricardo!
Valeu o incentivo! Amanhã eu vou mandar um e-mail para a organização do Caminho do Sol, falando que conseguimos em dois dias, e dar a dica de deixar o log em GPS.
Abraço,
Vinicius