“Eu completei!”, essa é a mensagem atrás da medalha dada aos ciclistas que cruzaram a linha de chegada, e estou nesse grupo, dos corajosos que desafiaram essa prova.
No dia 28/06/2009 aconteceu a sexta edição da Maratona 100km dos Canaviais, uma prova que contou com dois percursos: um de 50 km, e o que dá o nome a prova, o de 100 km. A prova foi na cidade de Cravinhos-SP, que fica uns 20km de Ribeirão Preto.
100km? Isso mesmo! Num primeiro momento você se assusta, depois você respeita. E nesses últimos dois meses eu me preparei para ela, com a intensão de completá-la em boas condições, sem pretensões de resultados ou pódios.
Surpresas
Todos que consultei e pelos relatos na internet que li, era geral o comentário dizendo que é uma prova longa de estradão, sem dificuldades técnicas. Só que São Pedro fez sua parte no dia anterior, mandou muito chuva, e isso associado ao solo Massapê da região de Ribeirão Preto mudou completamente qualquer prognóstico, mudando de prova rápida para uma prova mais dura ainda.
Na edição 2008 da prova o primeiro lugar terminou em um tempo próximo de 3:30 horas, esse ano terminou em 4:06 horas. Para a Elite trinta minutos é muita diferença. Imagine para os amadores como eu? Esse barro fez muito diferença.
Apostas
Eu fiz duas apostas: usar garfo rígido e pneu para terra batida com cravos próximos e alinhados… Como em toda aposta a gente pode ganhar ou perder, e nessa eu perdi feio. O solo Massapê tem a característica de ser muito pegajoso, impregna no pneu, não solta por nada.
Outro ponto de atenção foi a estrada com muitas pedras presas ao solo, nas descidas trepidava até a alma, imagine isso sem suspensão? As mãos e braços chegavam a adormecer com a vibração, limitando muito o desempenho nas descidas.
O abdômen e a lombar sentiram muito toda essa vibração, fazendo muito diferença na piora do meu desgaste nos últimos quilômetros.
Pontos de Atenção
Uma prova assim não é brincadeira, precisa estar preparado, conhecer muito bem o corpo e suas necessidades, controlar o esforço e o desgaste, e sobretudo se alimentar e hidratar. Nesse ponto a organização foi impecável na minha opinião: muita água e pontos de apoio com coca-cola, mexerica, maltodextrina e banana. Além desse apoio eu levei minha água e isotônico, géis repositores e barras de cereais e proteínas.
Um outro cuidado é com o equipamento, não adianta você ter perna e ter uma pane mecânica. Eu me descuidei nesse ponto, não levei óleo para corrente, e dependi da cordialidade de outros colegas. Tanto barro e areia retira todo óleo da corrente, e uma corrente seca é um passo para rebentá-la e comprometer toda a relação.
A escolha do pneu também é importante, eu fiz uma escolha incorreta de um pneu para pista seca. Por isso não deve se esquecer de ter uma opção na manga, sempre levar um par de pneus para ocasiões adversas.
O Percurso
Uma prova com 100km é dura por si só, agora com o agravante de barro e subidas longas, aí sim é “para acabar”. E foi assim, no começo estradão batido, muito rápido, consegui manter uma distância de mais ou menos um km do pelotão da Elite, mas quando chegou o primeiro ponto de barro já vi que a coisa não ia ser fácil, tentei passar pedalando, mas com tantos outros colegas descendo das bikes para empurrar acabei sendo atrapalhado e tive que descer e usar as lições do Márcio Ravelli de como carregar uma bike. Triste pensar que seria só nesse ponto, devo ter carregado a bike por quase um quilômetro em toda a prova, um desgaste absurdo, e não tinha nem se passado 30 km.
Ainda não sei o que foi pior, se foi esses trechos de lama ou as duas subidas: uma de 12 km no km 65, e outra na chegada de 5 km. É para queimar qualquer panturrilha e ficar pulsando, esperando a hora certa para dar uma câimbra.
Companheirismo
Diante de uma prova tão cheia de dificuldades o companheirismo entre os competidores é motivante. Teve uma ocasião onde um competidor me pediu um pouco de água e escutou a minha corrente rangendo e me ofereceu óleo. Num outro ponto vi um competidor parar para ajudar um outro que estava com câimbras.
Em outro momento eu vi um outro competidor, da mesma categoria que a minha, que estava trocando a segunda câmara de ar e a sua bomba estava inutilizada por causa do barro, eu emprestei a minha bomba e perguntei se ele tinha remendo, me disse que não, então dei uma das minhas duas câmaras reservas, imagine se ele tivesse outro pneu furado. Ele acabou me ultrapassando alguns quilômetros a frente.
Eu estava torcendo por todos, para que todos completassem a prova, o tão falado “fair play”. E cada um que eu cruzava eu falava “vamos lá”!
Lições
Estou começando no MTB, sinto que estou melhorando, mas tudo é aprendizado. Aqui vou listar algumas lições:
Alimentação: é importante ingerir alguma coisa de 40 em 40 minutos, para que a fome não aperte e te falte forças. Nessa eu acertei, levei géis energéticos, barrinhas de cereais e proteínas, passei bem.
Hidratação: eu não senti sede forte durante toda a prova, uma medida que sempre tomei foi tentar antecipar a hidratação. Levei 500ml de água e um isotônico, tomava sempre um pouco de cada, e enchia as garrafas nos pontos de hidratação.
Trajeto: procurei sempre me antecipar às partes de grande esforço. Coloquei o trajeto no meu GPS, assim fui acompanhando a altimetria durante todo o percurso, sempre procurando me alimentar pouco antes das grande subidas.
Abdômen: senti a falta de preparação abdominal, foi uma das partes que mais senti e que reduziu muito o desempenho nas descidas e trechos planos. Um reforço nessa área é fundamental.
Pernas e Panturrilha: nos últimos 2 km eu controlei uma câimbra na panturrilha direita, parei perto da chegada para massagear e relaxar o músculo. Isso não dá para prever, mesmo um atleta bem preparado pode ter.
Garfo Rígido: eu não fiz uma boa opção ao utilizar garfo de carbono, senti muito desconforto em várias descidas e trechos planos com pedras presas na estrada, a vibração e a rigidez excessiva da bike pesou muito na região abdominal e lombar, fora a sensação a perda de força nas mãos onde tive que reduzir a velocidade para ter mais segurança.
Pneu: o pneu original da minha Merida tem cravos altos e sem muito espaçamento, isso fez que o barro ficasse preso, dificultando muito em trechos com lama. Ainda não encontrei nenhum material ou guia que desse uma visão clara de como escolher melhor pneus.
Bike de Carbono: A leveza da bike, associada aos bons componentes, fizeram muita diferença, já que carregar a bike por quase um km com barro é pesado. Foi um excelente investimento!
Trajeto: Não pode perder a atenção com o trajeto, com as indicações. Pedalar em canavial é traiçoeiro, para entrar numa entrada errada é muito fácil. E isso aconteceu comigo e mais uns 10 competidores, andei quase um quilômetro por uma entrada errada.
Linha de Chegada
Na última subida eu só pensava em chegar, em acabar com o sofrimento, mas cruzar a linha de chegada é emocionante, é uma vitória. Não é à toa que a prova tem o tema “Desafio Pessoal”.
Categoria: Sub-30 – 100km
Tempo: 06:17:34
Colocação Categoria:13º em 15 participantes
Colocação Geral: 70º em 94 participantes
Bike
Veja como a bike iniciou e terminou a prova, haja barro:
Percurso
Confira o trajeto:
http://vinicius.mobi/wp-content/rotas/2009.06.28.Maratona.100km.Canaviais.gpx
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